segunda-feira, fevereiro 21

Little Earthquakes




Little Earthquakes, na verdade, é o título de um livro muito bacana da Jennifer Weiner, a mesma escritora sensacionalmente sensível que escreveu Bom de Cama e In her Shoes, que depois virou filme com a Cameron Diaz e a Shirley McLaine, no papel da Deliciosa avó.

Estar vivendo pequenos terremotos é a sensação que tenho, enquanto me preparo para a mudança mais radical de toda minha vida: minha mudança de país.

Como definiu muito bem um amigo, não existe um grande problema, uma grande coisa que esteja tornando sua vida um inferno. São as pequenas coisinhas que se sucedem de forma irritante que acabam tornando sua existência uma combinação frenética de coisas acontecendo, por acontecer e terminando.

Ou como definiu uma outra amiga: A grande sacanagem de mudar de país sendo transferida por sua empresa, é que enquanto isso tudo acontece, você ainda tem que trabalhar.

Esses amigos estão um passo à minha frente. Estão tendo que lidar com coisas como não ter um endereço fixo por dois ou três meses e nem telefone; não ter histórico de crédito (e consequentemente não ter crédito - não adianta ter dinheiro: mesmo que você tenha muitos milhòes no banco, sem crédito você é um indigente)- não saber muito bem como você faz para tirar carteira de motorista.

Eu, um passo atrás, estou lidando com a partida. Os terremotos são menos práticos e muito mais emocionais. São as benditas borboletas no estômago, enquanto me preparo para dar o salto rumo ao desconhecido. Na verdade, estou me sentindo amparada e muito entusiasmada, mas tenho medo. Óbvio. Penso nas muitas horas de vôo que Zé e eu enfrentaremos todos os meses para estarmos juntos, e tenho medo de que um de nós ou ambos nos cansemos dessa ponte aérea. Penso na minha família reunida muitas vezes, em muitas celebrações, e eu de longe, participando por telefone. Penso nos domingos em que vou acordar com a cama vazia, é claro que penso nisso.

Enquanto penso nisso tudo, penso também que tenho que cancelar minhas assinaturas de revista, de jornal, de banda larga, de TV a cabo. Tenho que fazer a lista do que vai e o que fica para o cara da mudança que vai vir fazer meu inventário. Que destino darei aos bens, poucos mas existentes, que eu tenho? Alugo meu apartamento atual? Se fizer isso, o governo ficará automaticamente com 15% do valor, porque serei uma contribuinte não residente. Mas se não resido, por que devo contribuir? Afff. Muitas coisas.

E pra terminar, como disse minha amiga, a grande sacanagem: enquanto penso tudo isso, tenho que trabalhar. Bastante.