quarta-feira, agosto 24

Querida Meredith,


Ontem pensei em você. Estive às voltas com meus afazeres domésticos até tarde da noite, e em todo momento pensava em você, minha querida. Você bem sabe por onde vagueiam os pensamentos de uma mulher sozinha e de uma certa idade.

Nos tempos em que havia seu tio, pelo menos eu me ocupava brigando com ele, lavando suas meias imundas de terra... mas agora só me sobram você e Katherine, e eu me ocupo fazendo planos imaginários de felicidade para vocês duas.

Fico infeliz quando não recebo notícias. É como se as lindas estórias que crio para vocês em meu coração não estivessem acontecendo. Nessas horas, eu paro minhas coisinhas, tiro as luvas que uso pra cuidar do jardim, sento e escrevo. Preciso compartilhar minhas esperanças, para que não fiquem presas em meu coração. Se elas ganharem o mundo, serão verdade!

Dê notícias querida. Katherine e eu torcemos muito pela sua felicidade.


Um beijo de sua tia


Laura

6 comentários:

Anônimo disse...

Querida tia Laura,

Sei da sua preocupação com a minha felicidade, o que muito aquece meu coraçãozinho em flor. Sabia que Thelonius Alphonsus e eu temos muito em comum e que ontem, quando a noite caiu e a lua subiu, iluminando o céu do castelo, nossos corpos já ligeiramente ébrios se encontraram numa confluência perfeita, que culminou naquela dança da vida, tão antiga quando o próprio homem.
Thelonius é um homem discreto; fala pouco de si, mas tem grandes talentos escondidos.
Bem mais tarde, quando tudo acabou, pensei na senhora, titia. Na senhora e em Elizabeth. Quero que saibam que Thelonius é o melhor presente que eu poderia ter ganho, depois de tanto sofrimento em mãos bem menos hábeis.
Que Deus as proteja.

Meredith

Anônimo disse...

Querida tia Laura,

Desnecessário explicar porquê chamo Katherine de Elizabeth.

A senhora bem se lembra de quando nascemos, gêmeas idênticas, naquela tarde chuvosa de outubro, em um hospital sombrio no interior da França. Mamãe, por mais que nos amasse, não tinha condições de nos criar. Desolada pela perda precoce de papai e com o coração pulsando lágrimas dentro do peito, optou por me criar e deixar Katherine na porta da casa da família mais rica da cidade.

Katherine foi criada como uma princesa e batizada com o nome de Elizabeth. Eu, apesar da vida humilde, sempre me senti muito amada por mamãe, que não poupou esforços para me dar os pequenos confortos da nossa vida no campo. Trabalhávamos duro, mas nunca nos faltou à mesa uma boa sopa de nabos ou um refogado de repolho na noite de Natal.

Na minha infância, quando via Elizabeth de longe, espiando por detrás das vidraças de cristal tcheco bisotado da mansão onde vivia, sempre de vestidos engomados e cachos feitos, não poderia imaginar que se tratava da minha querida irmã Katherine, que me fez companhia durante os nove meses em que partilhamos o ventre de mamãe. Só quando nos vimos, anos depois,no mercado, descobri sua verdadeira identidade.

Infelizmente, já havia aprendido a chamá-la de Elizabeth e nunca consegui chamá-la de Katherine.

Quanto a você, querida tia, também viveu dias felizes ao lado do tio Theodore Christian Anderson-Clayton. Ele era um homem rústico, eu sei, mas quando não estavam brigando, ele sabia compreendê-la.

Todas as noites, peço a Deus para premiar a senhora e Elizabeth com homens tão bons e trabalhadores como o meu querido Alphonsus Thelonius. Homens que saibam aquecê-las e que tenham prazer em preencher o vazio interior de duas almas tão bondosas.

Façamos o seguinte: secretamente, perguntarei a Thelonius Alphonsus se ele tem amigos descomprometidos para apresentar.
Sempre sua,

Meredith

Anônimo disse...

Querida irmã Meredith

nem pode imaginar o quanto suas palavras carinhosas me confortam num dia como hoje, em que tudo me parece cinzento, triste e impaciente.

Já tive ímpetos de jogar toda a minha coleção de borrifadores nos vidros de cristal tcheco bisotado do meu quarto, mas qual o quê! Nem para isso tenho forças hoje...

Lolô, minha babá africana e que até hoje penteia minhas melenas, me impediu de cortar meus cachos agora dourados num ataque de enfado e irritação.

Por tudo isso, querida Meredith, é que resolvi mais tarde pegar meu puro sangue árabe Feres e sair cavalgando pelas vastas terras da propriedade do meu padrinho mr. Thompson Christian Procter-Gamble Henriques até me acalmar.

Espero que seja feliz com seu Tetê (agora que é praticamente meu cunhado, acho que podemos dispensar as formalidades), para sempre.

sua mana

Elizzabethy (fiz algumas alterações aconselhada pela numeróloga da madrinha Mrs Lady Laura Procter-Gamble Henriques)

Anônimo disse...

Querida Elizzabethy,

Como diziam na escola, cujas aulas eu freqüentava escondida, dentro de um baú de material usado porque mamãe era amiga da servente, que ajudava em nossa pequena dissimulação, “ne c’est pas possible!”

Aposto que seu sofrimento é em função de Leopold Anthony Aston-Martin Splorattori, que deve ter aprontado mais uma das suas. Quando você voltar da cavalgada, enrubescida pelo esforço, com a pele de porcelana corada pelo sol, os loiros (?) cabelos colados ao rosto, emoldurando suas feições delicadas e os seios fartos e arfantes comprimidos pelo tecido fino da túnica, peça a Lolô para lhe preparar uma infusão de camomila, recém colhida nos jardins da propriedade e trate de se ocupar, talvez terminando aquele delicado bordado para a toalha que enfeitará a mesa de Primeira Comunhão da pequena Mary-Isabelle Procter-Gamble Henriques.

Se não funcionar, querida, saiba que estou à disposição para ouvi-la. Até porque, Thelonius Alphonsus é um homem cheio de atribuições o que, de certa forma, é bom, porque continuo com tempo para me dedicar à você e à tia Laura.

Em tempo, não sei se tia Laura comentou, mas Thelonius Alphonsus não gosta de apelidos. Ocorre que quando o pobrezinho ainda era menino, perdeu a mãe, que o chamava de Theo, para uma cruel pneumonia e, poucos meses depois, o pai, que o chamava de Al, numa emboscada covarde. Sei que me entenderá.

Carinhosamente,

Meredith

Anônimo disse...

Saudade de Sollangy, sabe?
E Tia Darcy, por onde andará Tia Darcy?

Anônimo disse...

Nossa, seu Arlindo, que tem tempo que não sei delas, viu? Tanto trabalho aqui na loja com o mês de setembro chegando, todo mundo quer se casar em setembro por causa da primavera.
Suelen Cristina