quarta-feira, setembro 14

Feira de Ciências

Era a maior expectativa. Dia de Feira de Ciências era nossa festa da colheita. Era dia de lavar o cabelo e secar pra ficar bonito, de chegar na escola às sete da manhã pra arrumar tudo e só sair de lá quando estivesse anoitecendo. Era dia do pai engraxar os sapatos da gente, da gente ligar pra vó cedinho pra saber se ela ia também, e avisar que a nossa equipe estava na sala 5, no lado esquerdo de quem entra.

Depois era forrar as mesas com papel crepom e colocar o babado, também de papel crepom. No início, a gente prendia o papel com tachinha nas mesas, mas depois não podia mais, então a gente usava rolinhos de durex, que não eram tão legais, porque sempre descolavam ao longo do dia.

Pregar os cartazes na parede, feitos com cartolina colorida, a borda feita de durex colorido cheio de bolhas, as folhas de papel ao maço pra pegar a assinatura de todo mundo que fosse lá (e falsificar a de todo mundo que não fosse) e depois comparar com as outras equipes, e ver quem tinha feito mais sucesso.

Quase todo mundo usava aparelho nos dentes. Todo mundo começava a abordagem dos visitantes com a clássica "Quer explicação?". Claro, todo mundo queria. Quem é que ia dizer pra uma criança ansiosa e de aparelho nos dentes que não queria explicação???

Então a gente desandava a falar, e no final esticava o papel: Assina aqui por favor. Provavelmente, eram as duas únicas frases que o público entendia.

Alguns trabalhos estavam lá ano após ano, em versões diferentes: Filtração. Decantação. A fazenda de formigas. O vulcão de papel machê com lâmpada vermelha dentro. O bendito trabalho sobre o aparelho reprodutor que a gente olhava de soslaio e dava risadinhas.

Eu me lembro de ter feito dois que ficaram fenomenais.

O primeiro chamava-se "O calor dilata os corpos" e era um sucesso! Um fio de cobre sobre uma bandejinha de metal onde a gente acendia o fogo. Quase encostado no fio, um pedaço de cartolina em pé, com um espelho, preso com uma dobra, parecia uma portinhola. Apontando para o espelho, uma lanterna cuja pilha acabou trocentas vezes e lá ia meu pai comprar pilha nova. E na frente disso tudo, uma cartolina branca. A gente acendia o fogo, o fogo esquentava o fio de cobre, o fio de cobre crescia, mexia no espelho e SHAZAM! Mudava o foco da lanterna na cartolina! tinha gente que até falava "ooh". ERA GENIAL!


O outro foi o espetacular trabalho sobre a Antártica, que incluiu uma maquele fabulosa feita com isopor e gesso sobre a mesa da cozinha da minha avó. O pai desmontou a mesa, levou pra escola, montou a mesa lá, a gente forrou de pael crepom lindo azul cobalto, montou a maquete, botou o gesso. Além disso, tinha slides da lousa com imagens de lá, amostras de Krill num vidro emprestado do Instituto de Oceanografia da Usp, fotos de focas e de pinguins. É claro que depois que a feira acaba, a maravilhosa maquete vira um tafanário que ninguém tem onde guardar, e eu PRECISAVA desocupar a mesa da cozinha da minha avó. Uma lástima.

Depois disso, esperar pela nota, pelos comentários e querer MATAR a professora de ciências porque deu 8, e deu 9 praquela equipe que nem tava todo mundo lá, e eles ficaram comendo coxinha da cantina em cima do trabalho. Oras...

É isso. Assina aqui, por favor.

9 comentários:

Anônimo disse...

Feira de ciências me lembram de pronto o approach-padrão: "quer explicação?".
Beijo

Anônimo disse...

E, claro, a aflição da lista de assinaturas no papel almaço do vizinho crescendo, virando a página, e a minha sem romper a barreira dos dois dígitos.

Cláudia disse...

Pela feira de ciencias eu fui no pomar da escola procurar minhocas pra fazer um minhocário.
Pela feira de ciências o amigo do meu pai emprestou o jabuti de estimação para ser a estrela do meu trabalho sobre a diferença entre os jabutis e as tartarugas.
E também pela feira de ciencias, fiquei horas parada em frente às mesas do colégio da Bela, escutando a "explicação".

Anônimo disse...

Lala,

Muito legal.
Feria de Ciências é mesmo uma das grandes experiências da vida

Beijos

GI

Ana Téjo disse...

E eu que fiz uma sobre baratas... ficou um show, tínha amostras e tudo (você sabia que a maior espécie de barata pode chegar a 20 cm?), mas todo mundo morria de nojo de ouvir a bendita "explicação".
JU...

Ana Téjo disse...

Ah, e para a minha profunda frustração, nunca consegui que o dentista me indicasse o uso de aparelho. Era uma pária.
JU...

Luciana disse...

Lalíssima e um formigueiro vivo?!!! A gente trouxe um da fazenda, meteu o troço em um vidro E-NOR-ME e levamos para o colégio. E CLARO QUE EU QUERIA QUE O TROÇO MORASSE NA MINHA CASA PRA SEMPRE E MIHA MAE NAO DEIXOU. Assim como NUNCA comprou uma girafa para morar no fundo de casa. Afi, feira de ciência tb pode deixar trumas profundos... (rs)
:c)

Gastón disse...

Meu, Vulcão de lava é um clássico.

Lala, vc ainda tem as minhas assinaturas em TODOS os anos?

Anônimo disse...

feira de ciencias era uma especie de amy awards do colegio. concordo que poderia deixar traumas profundos: meu iceberg de papel mache foi esquecido dentro do carro da professora de geografia e acabou mofando. uma pena, ele poderia enfeitar minha mesinha de centro neste exato momento......
beijos
sis