A Visita

Era uma pessoa de quem ela gostava. Sabe aquelas pessoas com quem a gente simpatiza, e sabe que simpatizam com a gente?
Fazia um tempo que não se viam. Por isso, quando ela soube que a outra estava doente, a informação acabou ficando perdida nos meandros de sua mente.

Então naquele dia o telefone tocou. Uma outra amiga pintou o quadro e deu o sábio, maravilhoso, inacreditável conselho: Vá vê-la.

E então ela foi. Não esperou nem meia hora. Simplesmente foi.

Quando chegou lá, viu a ex companheira de trabalho, os mesmos óculos, o mesmo sorriso, deitada numa cama, respirando com dificuldade, muito muito cansada. Quando ela entrou no quarto, os olhos claros a olharam seriamente, e a fala, pausada como sempre, quase didática, saiu entrecortada pela respiração trabalhosa: "Eu estou boquiaberta. Eu jamais, ja-mais, esperaria ver você aqui."

Ela se inclinou, e beijou a testa tão branquinha: por que não?

A resposta não veio, veio outra coisa no lugar: Acho que de todas as visitas surpreendetes que recebi nesse hospital, essa foi a mais gostosa. Eu jamais imaginei que você viesse. E depois, virando-se para a mãe: mãe, a Andreinha faz aniversário dia 26 de setembro.

Então foi isso. A lembrança da data do aniversário, a satisfação genuína pela visita, a conversa deliciosa das mazelas que enfrentavam no trabalho.

Minutos mais tarde, foi a conversa com a mãe no corredor, a lágrima que caiu teimosa, e a consciência do precioso tempo, tão caro agora segundo o médico.

Voltando do hospital, as lágrimas jorrando, uma única lição: Nesta porcaria de vida, a gente tem OBRIGAÇÃO de estar perto das pessoas que gostam da gente.