Carlinda e o Santo
Carlinda é a depositária de todas as minhas mazelas e testemunha silenciosa de minha incompetência doméstica. É ela a quem, toda sexta feira, entrego minha casa, minhas roupas, minha bagunça, meu cestinho do banheiro, tudo. E ela, com paciência e filosofia, limpa, arruma, mata os bichos que só tocaiei durante a semana, tira o mofo das botas de inverno, passa, cuida das jardineiras.
Além disso tudo, Carlinda é uma conselheira sentimental de mão cheia, torcedora incondicional do Zé Augusto e - mais importante que tudo - amiga íntima de Santo Antonio.
Quem me contou isso foi a Clau. Uma tarde ela me liga com o inconfundível tom de fofoca:
- Lala, você tem um TESOURO em casa e não sabe.
Pergunto o que é, ela dispara:
- Menina, Carlinda tem um Santo Antonio que funciona!
Como assim um Santo Antonio que FUNCIONA?
Então ela me explica; ela tem uma imagem de Santo Antonio pra onde dirige pedidos e promessas. Intercedeu junto ao Santo anos atrás em favor de uma prima, a saber: 50 anos, manca, com uma mãozinha torta por paralisia, quase analfabeta. Funcionou. A prima arrumou um namorado, um homem de Deus, casou-se e viveram felizes para sempre. "Mas é moreninho, que Santo Antonio sempre manda um moreno", já avisa.
Eu tinha em casa uma imagem de Santo Antonio. Não era uma estátua, era um Santinho, plastificado, bonitinho, presente de uma amiga. Outro dia procurei e não achei mais.
Tudo o que não acho, pergunto à Carlinda, que ela sempre sabe onde é que colocou.
- Sei sim, guardei ele aqui ó.
"Aqui ó" era uma caixinha de bijuterias e lá estava o Santo: Mocozado de cabeça pra baixo, amarrado num pedacinho de tecido escuro e estampado. "É a gravata que meu cunhado usou no casamento, não tem erro. Deixa ele aí amarrado até te arrumar um casamento. Já funcionou pra minha filha, depois que funcionar pra você vou amarrar pra Dona Clau".
Com o casamento da irmã no início do mês, adquiri um outro pedaço de tecido - da lucrativa gravata do meu cunhado. Mostrei a ela, saí pra trabalhar, e depois disso não encontrei mais o valioso pedacinho de pano em nenhum lugar.
Fui na caixinha de bijuterias e EUREKA! Não sei se o que tenho ali é um Santo Antonio ou uma múmia da Fashion Week, toda embrulhada em tecidos diferentes. Carlinda, que é chegada dele e entende dessas coisas diz que nunca é demais. Mas que eu tenho que conversar com ele, que a gravata sozinha não faz verão. Que eu tenho que pedir, convencê-lo a dar uma força. E nem pensar em pegar buquê de noiva, que não dá sorte. O que dá sorte é conseguir persuadir o Santo.
Pensando bem, faz sentido. O Universo deve premiar de alguma forma uma mulher que trava um embate diário com um pedacinho de papel embrulhado em pedacinhos de tecido, você não acha?
7 comentários:
Olha, minha irmã também tinha um Santo Antonio porreta que andou circulando entre a célula terrorista - leia-se grupo de amigas dela.
Das 5, só uma não casou, mas como ela nunca bateu bem, não rolou. Porque Santo Antonio é Santo Antonio, não é Jesus Cristo.
Dei meu pedaço de gravata pra ela também, vai saber onde foi que ela amarrou...
beijo
Eu sou prova viva de que o Santo Antonio funciona - as vezes demora, e como! - mas funciona... Imagina só a quantidade de moçoilas colocando o coitado de cabeça pra baixo todo dia! Haja paciencia! Só sendo um Santo mesmo...
Clau: será que eu também nunca bati bem, e o Santo tá lá pedindo a Deus pra dar-lhe paciência?
Dri: verdade, nega... deve ter uma fila imensa... lá na FAMIGLIA, por exemplo, ocupo posição privilegiada na fila, mas não sou a primeira...
Beijo!
Lala, quando eu digo que a nêga não batia bem, tu num tem nossãn!
bj
Querida,
É claro que funciona. E eu faço questão de ir fazer a hôla na primeira fila da igreja.
O projeto bodas em lilás ainda vigora?
A que não bate bem casou sim...três vezes! Cada chinelo velho... Aquela ali só com intercessão (que palavra, é assim?)direta do Big Boss, que tem muuuuuuito mais o que fazer.
Faz um pool com Santo Expedito (o da pressa, mamãe e papai são chapas dele) e com São Judas Tadeu (o das causas impossíveis) que aí a coisa vai. Bota Santa Edwiges (a dos endividados) pra cuidar da festa.
Bjs. Rosana.
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