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O feriado que passou, assim como todos meio friozinhos e chuvosos, são um verdadeiro túnel do tempo pra mim. Eu sou sempre arremessada por eles à minha infância, e aos dias assim cinzentinhos e garoentos, em que eu ficava em casa a tarde toda.
Não sei porque não tenho a mesma sensação dos dias quentes e ensolarados. Talvez porque esses, como nas férias de verão, eu passasse na rua, com bicicleta, corda, toneladas de giz... Ou na piscininha Regan armada no quintal.
Mas os dias como o de ontem têm aquela cara de ficar em casa, no quarto imeeenso que eu dividia com as minhas irmãs, com as venezianas abertas e a vidraça abaixada. Eu dali via a chuva pingando nos fios da rede elétrica e um pedaço da casa da Cléo, a vizinha da frente.
E as tardes tinham sempre esse tom, de aconchego. Eu em casa, a chuva lá fora, aqui uma Sessão da Tarde, uma Sessão Comédia.
Acho que é por isso que eu sempre volto pra esse lugar na minha memória. Porque ficar em casa era bom demais, era seguro, era colo. Mesmo infernizando minha mãe ("o que eu tenho que fazer, hein?") com o tédio de horas a fio dentro de casa por conta da chuva, tenho desse tempo as mais doces lembranças.
Nunca mais na vida a gente tem essa chance. De ficar em casa, dia após dia, só vendo a chuva cair, e tendo ao alcance da mão um pouquinho de colo, um pouquinho de pipoca, um pouquinho de todas aquelas coisas que só a casa da gente oferece.