Conversa de Boteco
Aquela velha amizade, aquela conversinha descompromissada, aquele pôr o assunto em dia... copos vazios sobre a mesa, estrategicamente posicionada em frente à porta do vestiário da academia, dois pares de olhos atentos ao entra e sai da piscina.
As pernas passavam aos pares. Quanta perna, meu Deus. Iam sequinhas, recém saídas do pijama, e voltavam molhadas, trabalhadas, escorrendo a água com cloro da piscina.
Os olhos estavam atentos, mas discrição e classe acima de tudo! Afinal, não estamos falando de dois homens tomando uma cerveja barata no balcão do bar da borracharia. Há que se ter compostura. Mas gente composta não é gente morta, então voltemos as pernas aos pares.
E aos traseiros, cada um melhor que o outro. De abrir o apetite logo de manhã. Olha aquele, depressa!
De vez em quando entram pares de pernas vestidas, deixando a expectativa de vê-las saindo em traje de banho. Mas elas voltam metidas numa bermuda de flores, jogando flores na esperança da água escorrendo por elas. Paciência, nem tudo é perfeito.
Mais um par espetacular de pernas, então se olharam e riram. Duas mulheres elegantes que sempre foram, de repente se deram conta de que estavam se comportando exatamente como dois machos de boteco. Mas foi tão divertido!
(imagem: Boteco, 2002, de Alexandre Meldau. Acrílica sobre tela).