A Vó e a Pinga
Domingo à noite, muito calor, saímos pra comer pizza. A vó, contrariando tudo e todos como de costume, foi junto. Acho que foi sua primeira saída noturna em muito tempo, depois de tanta internação, coração, avc... Comemos pizza, tomamos água tônica Diet, nos divertimos muito. Na saída, subimos por uma rampa, já que com escada ela não pode mais. Lá pelas tantas, deu uma cambaleada e eu segurei o braço dela:
- Ô vó, tá bêbada?
A vó riu, e disse que sim, que era a Marvada Pinga!
Eu ri também, e fomos subindo a rampa, devagarzinho, cantando a Moda da Pinga, rindo.
Chegando no final, comentei com a vó:
- Quem vê pensa que a gente bebeu mesmo vó... as duas cambaleando e cantando a Marvada pinga.
E a vó responde:
- Se eu morrer amanhã, você vai ter história pra contar.
Eu, que não sou besta nem nada, tratei de negociar:
- Ai vó, amanhã não... amanhã tenho reunião, é chefe novo, não posso faltar!
Ela concordou: tá bom, amanhã não.
E assim vamos indo. Negocio com ela, negocio com Deus. Mas com 92 anos, sei que minha margem está ficando apertada.
Então, a gente faz que bebe e canta enquanto der!
Moda da pinga
(Ochelsis Laureano e Raul Torres)
Co'a marvada pinga é que eu me atrapaio
Eu entro na venda e já dô meus taio
Pego no copo e dali num saio
Ali mesmo eu bebo, ali mesmo eu caio
Só pra carregá é queu dô trabaio, oi lá!
Venho da cidade, já venho cantando
Trago um garrafão que venho chupando
Venho pros caminho, venho trupicando
Chifrando os barranco, venho cambeteando
E no lugar que eu caio já fico roncando, oi lá!
O marido me disse, ele me falô
Largue de bebê, peço pro favor
Prosa de home nunca dei valor
Bebo com o sor quente pra esfriá o calô
E bebo de noite que é pra fazer suadô, oi lá!
Cada vez que eu caio, caio deferente
Me arço pra trás e caio pra frente
Caio devagar, caio derepente
Vou de currupio, vou deretamente
Mas sendo de pinga eu caio contente, oi lá!
Pego o garrafão é já balanceio
Que é pra mor de vê se tá mesmo cheio
Num bebo de vez por que acho feio
No primeiro gorpe chego inté no meio
No segundo trago é que eu desvazeio, oi lá!
Eu bebo da pinga porque gosto dela
Eu bebo da branca, bebo da amarela
Bebo no copo, bebo na tigela
Bebo temperada com cravo e canela
Seja quarqué tempo vai pinga na goela, oi lá!
Eu fui numa festa no rio Tietê
Eu lá fui chegando no amanhecê
Já me deram pinga pra mim bebê
Já me deram pinga pra mim bebê, tava sem fervê
Eu bebi demais e fiquei mamada
Eu cai no chão e fiquei deitada
Aí eu fui pra casa de braços dado
Ai de braço dado ai com dois sordado
Ai, muito obrigado!
5 comentários:
Negociar e agradecer a Ele.
Por não só tê-la viva e bem como tê-la perto de você.
E cantando!
Beijos,
JU...
Lala!
Sempre leio seus textos e adoro! E este mexeu comigo, pq minha vó tbem pasou por poucas e boas, mas continua inteirona e divertidíssima!
Só que no caso dela, ela bem q entorna algumas de vez em qdo viu... Não resiste a um "chope escuro"! Adorei! Sorte nossa que temos uma vó! ;)
Ai essas nossas avós... vejo a minha doidinha quase toda semana, e ela é chegada num árco. caipira. Um perigo, divertidíssima e mudérrna. E vamos aproveitando ao máximo, né?
beijo
Duas coisas agradáveis num só post:enterneci-me com as negociações,lembrei papai que está com 88 e tem um bom humor maravilhorso;sempre me acabo de rir com a música da pinga.
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