Era a maior expectativa. Dia de Feira de Ciências era nossa festa da colheita. Era dia de lavar o cabelo e secar pra ficar bonito, de chegar na escola às sete da manhã pra arrumar tudo e só sair de lá quando estivesse anoitecendo. Era dia do pai engraxar os sapatos da gente, da gente ligar pra vó cedinho pra saber se ela ia também, e avisar que a nossa equipe estava na sala 5, no lado esquerdo de quem entra.
Depois era forrar as mesas com papel crepom e colocar o babado, também de papel crepom. No início, a gente prendia o papel com tachinha nas mesas, mas depois não podia mais, então a gente usava rolinhos de durex, que não eram tão legais, porque sempre descolavam ao longo do dia.
Pregar os cartazes na parede, feitos com cartolina colorida, a borda feita de durex colorido cheio de bolhas, as folhas de papel ao maço pra pegar a assinatura de todo mundo que fosse lá (e falsificar a de todo mundo que não fosse) e depois comparar com as outras equipes, e ver quem tinha feito mais sucesso.
Quase todo mundo usava aparelho nos dentes. Todo mundo começava a abordagem dos visitantes com a clássica "Quer explicação?". Claro, todo mundo queria. Quem é que ia dizer pra uma criança ansiosa e de aparelho nos dentes que não queria explicação???
Então a gente desandava a falar, e no final esticava o papel: Assina aqui por favor. Provavelmente, eram as duas únicas frases que o público entendia.
Alguns trabalhos estavam lá ano após ano, em versões diferentes: Filtração. Decantação. A fazenda de formigas. O vulcão de papel machê com lâmpada vermelha dentro. O bendito trabalho sobre o aparelho reprodutor que a gente olhava de soslaio e dava risadinhas.
Eu me lembro de ter feito dois que ficaram fenomenais.
O primeiro chamava-se "O calor dilata os corpos" e era um sucesso! Um fio de cobre sobre uma bandejinha de metal onde a gente acendia o fogo. Quase encostado no fio, um pedaço de cartolina em pé, com um espelho, preso com uma dobra, parecia uma portinhola. Apontando para o espelho, uma lanterna cuja pilha acabou trocentas vezes e lá ia meu pai comprar pilha nova. E na frente disso tudo, uma cartolina branca. A gente acendia o fogo, o fogo esquentava o fio de cobre, o fio de cobre crescia, mexia no espelho e SHAZAM! Mudava o foco da lanterna na cartolina! tinha gente que até falava "ooh". ERA GENIAL!
O outro foi o espetacular trabalho sobre a Antártica, que incluiu uma maquele fabulosa feita com isopor e gesso sobre a mesa da cozinha da minha avó. O pai desmontou a mesa, levou pra escola, montou a mesa lá, a gente forrou de pael crepom lindo azul cobalto, montou a maquete, botou o gesso. Além disso, tinha slides da lousa com imagens de lá, amostras de Krill num vidro emprestado do Instituto de Oceanografia da Usp, fotos de focas e de pinguins. É claro que depois que a feira acaba, a maravilhosa maquete vira um tafanário que ninguém tem onde guardar, e eu PRECISAVA desocupar a mesa da cozinha da minha avó. Uma lástima.
Depois disso, esperar pela nota, pelos comentários e querer MATAR a professora de ciências porque deu 8, e deu 9 praquela equipe que nem tava todo mundo lá, e eles ficaram comendo coxinha da cantina em cima do trabalho. Oras...
É isso. Assina aqui, por favor.