Encontrei um cara que foi meu técnico. Sim, meu técnico. Porque SIM, apesar de não ter restado NENHUMA pista disso, eu SIM, já fui uma atleta. Joguei basquete, por quase 10 anos. Joagava mesmo, de verdade. Treinava todossantodia.
Então encontro o Zé Paulo. Um senhor já. Cabelos completamente prateados. E me dei conta de que ele foi meu técnico há VINTE - veja bem, VINTE - anos. E que ele, entre outras coisas, foi à minha festa de 15 anos.
Então me lembrei de mim mesma com quinze anos. Tímida, insegura, uma ostra. E claro, como compete à idade, me achando a mais inadequada, a mais feia, a mais desengonçada, a mais gorda, a mais horrorosa criatura sobre a face da terra. Também me achava uma nulidade. Um tipo insignificante que ninguém jamais notaria. Encontrava por acaso as pessoas na rua, e não cumprimentava. Não por nada não, mas a pessoa provavelmente não saberia quem eu era, não se lembraria de mim, não me reconheceria.
As coisas são paradoxais quando a gente tem 15 anos. Quer dizer, elas são paradoxais a vida inteira, mas mais ainda quando se tem 15 anos. Se eu fosse a mais feia, desengonçada e paquidérmica do mundo como eu me achava, então não seria uma criatura ignorável. A Feiúra descabida é um atributo que deveria chamar a atenção das pessoas. Mas não. Dentro da minha enorme fantasia, cabiam simultaneamente as duas situações: a de ser absurdamente torta e feia, e de ser completa e totalmente ignorável.
O mais curioso é que a gente passa o resto da vida querendo ter exatamente a aparência que tinha aos 15. Não a que a gente acreditava ter, a que a gente tinha mesmo, e que vê em fotos hoje. A mesma pele, as mesmas pernas, o mesmo cabelo.
E não dá. O tempo também é paradoxal. Ele vai estragando a gente por fora, mas vai cicatrizando as coisas por dentro. Ainda bem, porque não tem pecado maior do que uma menina tão linda (não fomos todas? não somos todas?) ficar se achando uma aberração, justamente no melhor momento da nossa embalagem, não é mesmo?